Este sábado marca o 45º aniversário da primeira vez que as mães de um grupo de pessoas detento-desaparecidas se reuniram na Praça de Maio –marco histórico e político da capital argentina- para exigir o aparecimento vivo de seus filhos sequestrados, torturados e desaparecidos pela ditadura civil-militar governante à época.
Cansadas de apresentar recursos e reclamações em busca do paradeiro de seus filhos, as Mães mudaram sua estratégia. "Por que não vamos todas para a Praça de Maio? Quando ele vir que somos tantos, Jorge Videla (o então presidente de facto) terá que nos receber", disse Azucena Villaflor de Vicenti, uma das organizadoras, que também foi desaparecida pelo regime.
A reunião aconteceu em 30 de abril de 1977, quando se juntaram em torno do monumento no centro da praça. Imediatamente, vários oficiais tentaram retirá-las do local, alertando-as de que não poderiam ficar ali. Mas, diante da recusa das mulheres, eles insistiram: "Avancem, avancem".
E assim começou a história, e as Mães começaram a circular lentamente ao redor da Pirâmide de Maio, segurando-se mutuamente pelos braços, apesar do desamparo e do medo que não as impediu de continuar com seu propósito.
Além de Azucena Villaflor de Vicenti, Berta Braverman, Haydée Gastelú de García Buelas, María Adela Gard de Antokoletz, Julia Gard, María Mercedes Gard, Cándida Gard, Delicia González, Pepa Noia, Mirta Baravalle, Kety Neuhaus, Raquel Arcushin e duas outras mulheres cujos nomes são desconhecidos se juntaram naquela primeira ronda.
No ano seguinte à primeira marcha, em 1978, os protestos silenciados ganharam visibilidade inesperada: foram filmados em um documentário holandês no primeiro dia da Copa do Mundo, para consternação da liderança militar, que havia convidado a mídia estrangeira para destacar o espetáculo esportivo, numa tentativa de ocultar a situação política do país.
Nos registros, que são repetidos em cada aniversário, elas podem ser ouvidas: "Queremos saber onde estão nossos filhos. Pelo menos, nos diga onde eles estão".